Autolesão não suicida é um ato praticado
contra si mesmo, que causa uma dor superficial, mas não pretende causar morte. Exemplos
mais comuns de autolesão não suicida está relacionado a cortar ou perfurar a
pele com objetos pontiagudos como faca, prego, lâmina de apontador, queimar a
pele, arrancar cabelos, bater com a cabeça e tomar altas doses de remédios. As
lesões tendem a ser disfarçadas ou escondidas e praticadas nas coxas, barriga,
antebraço, seios. (Veja Tudo, Click Abaixo)
Este fenômeno tem sido uma preocupação
crescente entre pais, educadores e profissionais da área da saúde, pois em
algumas ocasiões os adolescentes conseguem esconder, impossibilitando a rápida
identificação. O cutting ou o ato
autolesivo tem se difundido entre os estudantes, especialmente aqueles que
estão passando pela adolescência. Este período é permeado de descobertas e
transformações A etiologia do cutting
é diversificada, todavia aparenta ocorrer um traço em comum, que é o de alívio
das dores emocionais.
O adolescente por estar passando por uma fase
de desenvolvimento complexa pode não saber como lidar com os aspectos
conflitivos bio-psico-sociais e por conta disso, em função de não ter suporte e
estrutura emocional, buscar mecanismos de auto lesão como forma de amenizar as
angustias e conflitos. Neste sentido a escola sendo um ambiente que recebe
estes sujeitos precisa estar atenta a isso, afinal as relações escolares
perpassam o intelectual e o emocional, sua dimensão é muito maior e por este
motivo seu olhar demanda ser mais abrangente. A escola se torna o reduto mais rico em relação à concentração de praticantes de
autolesão, por envolver adolescentes em estágios de desenvolvimento com
diversas características e interesses.
Os contextos nos
quais o adolescente está inserido podem tanto potencializar esse comportamento, como
auxiliar na identificação do mesmo. A escola pode ser uma grande aliada, uma
vez que o adolescente passa boa parte de seu tempo semanal em suas
dependências, tendo a possibilidade de manifestar sinais, mesmo sem intenção,
que evidencie o comportamento autolesivo. Isso pode permitir a identificação do
comportamento e a tomada de medidas necessárias para que se possa alcançar
esses adolescentes, antes que haja danos ainda mais significativos em seu
desenvolvimento (DE ARRUDA SILVA; SILQUEIRA, 2017, p.6).
O conhecimento
e a identificação dessa prática por pais e professores, são essenciais para que
ocorra uma intervenção que possibilite ao adolescente uma oportunidade de
manifestar-se verbalmente, colocando em palavras os seus sentimentos. É
necessário um acolhimento nestes casos, pois essa prática apresenta-se como uma
descarga de energia, para a psicanálise, libidinal (ARAÚJO, 2016).
O conhecimento
precoce do desenvolvimento da autolesão se torna uma das principais formas de
intervir, bem como a prevenção primária das práticas. Nesse sentido um
profissional da psicologia que possa identificar e encaminhar tende a contribuir especialmente nas escolas
(CABRAL; SAWAYA, 2001).
Mediante ao supracitado, faz-se necessário estreitar
as relações entre pais e filhos, para que haja entre eles relações mais
autênticas e fluentes. Desta forma irá facilitar a exposição das angústias e
consequentemente a busca por ajuda será realizada de forma mais rápida. A dor de um adolescente que se autolesiona é
grande, por isso pais e outros adultos cuidadores anseiam por orientações que
acalmem a própria angústia, possibilitando um apoio adequado ao jovem. Manter a calma será um importante
primeiro passo aos pais
quando descobrem que o filho se autolesiona. Alguns pais reagem com pânico e
desorientação, o que poderá agravar ainda mais a sensação de desconforto do
adolescente. Dizer apenas para parar de fazer terá também pouco efeito. No
entanto, retirar do alcance do jovem, objetos com que se possa magoar pode ser
de extrema importância. Paralelamente e, com efeito, mais duradouro e profundo, será fundamental adotar
uma postura de disponibilidade para escutar o que preocupa o jovem e o que esta
sentindo. Assim, mostre interesse por aquilo que ele pensa e sente,
dando-lhe espaço para (mas não o obrigando a) partilhar.
Em
simultâneo, o acompanhamento por um profissional de saúde é essencial para
ajudar estes jovens a darem nome às suas emoções, a identificarem formas
saudáveis e adequadas de lidar com os seus problemas e angústias, a aumentarem
a autoestima e aprenderem a gostar de si
mesmos. Em termos familiares é também fundamental repensar o que pode estar
acontecendo. Muitas vezes este comportamento denota algumas carências (na
família, amigos e outros grupos de referência) que deverão ser analisadas. É
essencial restaurar o diálogo de forma a poder ouvir este grito de socorro do
seu filho. O cutting não pode ser visto como banal, como um “chamar a atenção”.
Ele é o sintoma de uma profunda dor psicológica que não consegue ser expressa e
elaborada de outra forma. Por vezes existem episódios em que nem o cortar-se é
suficiente para conter a angústia, e então podem ocorrer as tentativas de
suicídio. A autolesão já causa mais danos aos adolescentes nas escolas do que
as drogas.
Mário
Augusto Eccher
Graduando em Psicologia
(UNIFEBE – SC)
Psicanalista Clínico (ABMP
–DF)
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