A educação como caminho de combate ao racismo
e a forma como Itabuna trata demandas da população negra foram assuntos de
audiência pública sexta-feira (19), na Câmara de Vereadores. A edil Wilma de
Oliveira (PCdoB), autora do pedido para a sessão na véspera do Dia da
Consciência Negra, mencionou dados a justificar reflexão – e ação. “A maioria pobre é negra, a maioria sem acesso
a estudo, os piores trabalhos são para os negros. Portanto, isso não é natural. (A audiência foi acompanhada, ainda, pelos vereadores Cosme Resolve (PMN) e Manoel Porfírio (PT). “Não é fácil estar numa Casa de líderes comunitários, a maioria negra, na terra do cacau. Na reforma do Código Tributário, isentamos 46 mil casas da periferia de pagar IPTU. Observem mais essa Casa, queremos caminhar por políticas públicas sérias”, disse Porfírio.)
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É por isso que estamos aqui; dessa Casa podem sair projetos para mudar a vida do nosso povo. Essa é uma data importante pro Brasil. Não podemos falar em relações melhores sem tratar do racismo estrutural”, comentou Wilma.
Um dos convidados foi o professor Gabriel Nascimento, doutor em Linguística, natural do distrito de Banco Central, em Ilhéus. Docente da UFSB (Universidade Federal do Sul da Bahia), ele citou os resquícios do passado escravocrata, inclusive no sul da Bahia. Aí estão as dificuldades dos afrodescentantes no acesso aos estudos e a determinados postos de trabalho. “Nossas mães, trabalhadoras domésticas, passaram a viver pelo trabalho em troca de comida; nossos jovens, muitas vezes, ajudantes de pedreiro não assalariados”. E arrematou sobre o papel transformador da educação. “É uma pauta encarada de frente pela população negra; é importante para explicar o acesso à universidade pela lei de cotas, a necessidade de políticas para efetivar direitos”, pontuou.
Pelo reconhecimento
O presidente do Conselho Municipal de
Políticas Culturais, historiador Egnaldo França, testemunhou sobre a
importância da luta por ações afirmativas. “Nosso povo precisa entrar na
universidade, no mercado de trabalho. Eu fiz parte da primeira turma de
cotistas da Uesc e uma pesquisa provou que, durante dez anos, alunos cotistas
tiveram melhores notas do que não cotistas”, exemplificou.
A professora doutora Jeanes Larchert, da Uesc (Universidade Estadual de Santa Cruz), alertou para a relevância de espaço para o público afro – mais de 70% dos itabunenses. Na saúde, por exemplo, lembrou que a anemia falciforme é mais comum em pessoas negras. Como está o atendimento a elas nas unidades de saúde?
“Precisamos fazer com que essa sociedade seja
nossa, e não dos outros. A população afrodescendente não tem os direitos que
lhe são devidos, assim como a população branca tem”, assinalou.
O babalorixá Lula Dantas, da ACAI (Associação do Culto Afro Itabunense), criticou: as políticas afirmativas continuam no campo da teoria no município. “A consciência pode ser de todas as cores, mas não pode deixar de ser negra. Porque negro é a cor das pessoas que estão nas cadeias, desempregadas, passam fome”, elaborou.
À plateia, estudantes, professores,
funcionários públicos e religiosos de matriz africana. No encerramento, a banda
Negras Perfumadas deu show de percussão trazendo músicas pelo empoderamento
feminino e combate ao racismo.
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